"Carpem-me esse diem
Nós, Geração Y, estamos dispostos a mobilizar
cromossomas de encontro à única fonte de mudança que ainda nos deixam
governar: o monstro nas nossas cabeças
Texto de
Mariana Seruya Cabral •
09/04/2013 - 12:45
Somos uma geração com nome de cromossoma. Às vezes
chamam-nos "Millenials", outras vezes Geração Y, não sei, todos me
parecem nomes demasiado adornados para a decrepitude em que estamos.
Somos sim a geração qualificada, flexível e faz-tudo, malabarista dos
"gadgets", a geração que estudou e lutou pelo lugar ao sol, mas que
chegou à idade de agarrar a vida pelos colarinhos e só encontrou sombra.
Há quem diga que esta geração vai ficar para tia, qual solteirona
chegada aos "entas" que leva com "bouquets" na cara, mas noivo nem
vê-lo. No entanto, sou da opinião que esta geração tem um mérito
extraordinário: a vontade de combater a neurose. Tem vindo a
aperceber-se de que uma das medidas de combate à crise é evitar abusar
da palavra "crise", que já fede de tão bafienta. Recuso-me a contribuir
para o monpólio deste vocábulo nos "clippings" nacionais, por isso vou
substituí-lo por "vadia".
Deixámos que os políticos e os meios de comunicação fossem longe
demais. Demos demasiada confiança à desconfiança e esta vadia deixou de
ser uma conjuntura para ser um estado espírito, sintomático e
manipulador. É tão presente que chega a ser física, dói-nos no sítio
onde tomamos as decisões e fala a língua do medo, da desconfiança e do
torpor. Rouba-nos o oxigénio que outrora nos levava a fazer planos
impulsivos a cinco, dez, 30 anos de distância, com alpendres bonitos e
descendência abundante.
Mas a vadia dá-nos ousadia. Quando se tem pouco é-se criativo a fazer
mais com menos. Sinto que, aos poucos, e de forma discreta, temos sido
capazes de reinventar estilos de vida sem que a vadia estivesse presente
em cada vez que escolhemos "low-cost" em vez de normal, atum em vez de
marisco. Nós, Geração Y, estamos dispostos a mobilizar cromossomas de
encontro à única fonte de mudança que ainda nos deixam governar: o
monstro nas nossas cabeças.
Não vamos ficar para tia
Sinto que estamos melhores a decidir o que é importante. Mais do que
nunca nos revemos em mensagens "carpe diemistas" e procuramos evasão em
prazeres simples, seja em modo natureza, refeição caseira, corrida à
beira-mar, convívio em família. Precisamos de dar tempo de antena aos
outros sentidos: olfacto, tacto, audição e, acima de tudo, um merecido
"reboot" à visão (arrisco dizer que muitos olhos já viciaram o reflexo
de Pavlov ecrã = trabalho).
Sinto que estamos melhores a seleccionar informação. Reagimos à falta
de tempo com a escolha minuciosa dos tópicos de interesse. O nosso
Google Reader — paz à alma dele — é a nossa bíblia, a barra de Favoritos
a nossa bússola digital. Não só estamos decididos a absorver informação
em quantidades humanamente razoáveis, como queremos que ela realmente
acrescente valor.
Em tempos difíceis, damos por nós em reuniões de trabalho, daquelas
que sugam a alegria de viver, a ruminar sobre o sentido da vida: “Será
que chega trabalhar para os meus chefes, e os meus chefes para os seus
chefes, num ciclo fechado que só beneficia os seus e a própria empresa?
Para depois entregar metade ao Estado?”
O contraciclo obriga a questionar. E a cravar mais fundo a pegada,
porque o terreno é hostil. Posso estar enganada, ou porventura ter uma
amostra não representativa da maioria, mas estou convencida de que os
millenials de hoje querem ajudar o seu futuro-adulto a não se arrepender
das coisas que não fez. Podemos ter de ser mais pacientes, penar ou
emigrar, mas não vamos ficar para tia."